segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Daliana

“Não posso comer. Nem beber água”
Como é a vida da jovem que vive presa a uma sonda, mal pode caminhar e já tentou fugir do hospital porque queria um copo de leite
Cristiane Segatto, de Goiânia
Anderson Schneider
ÉPOCA – Por que você resolveu emagrecer?
Daliana –
Queria ficar bonitona. Tinha tentado de tudo: spa, dietas etc. Fazia exercício, fazia de tudo, e não emagrecia. Sempre quis ser magrinha. Queria ser maravilhosa no verão. Mas fui engordando, engordando. Primeiro, o doutor Aureo colocou um balão no meu estômago. Fiquei seis meses com ele, mas não resolveu. Logo comecei a engordar de novo. Ele me disse que se eu tivesse 100 quilos poderia fazer a cirurgia. Comecei a comer muito para poder fazer a operação. Era mais fácil engordar do que emagrecer. Passei de 77 para 86 quilos. O médico disse que ainda não dava. Aí eu me esforcei. Comia muito doce e fritura. Tudo. Pode imaginar o que é não poder comer nada agora? Eu gostava muito de comer.

ÉPOCA – É verdade que depois da cirurgia de 2005 você nunca mais pôde comer uma refeição normal?
Daliana –
É verdade. Eu vomitava, passava muito mal. Comia só papinha e ainda assim só vomitava. Mesmo comendo devagarzinho, eu só vomitava. Eu procurava o médico, e ele dizia que o problema era meu, que eu não sabia comer direito. Eu achava que ele estava certo e não discutia com ele. Ele dizia que a culpa era minha, e eu acreditava.

ÉPOCA – Ele nunca explicou nada para você sobre a interposição do íleo? Não disse que era uma técnica experimental?
Daliana –
Não. Nunca falou. Quando os problemas começaram a aparecer, ele disse que eu era azarada. Disse que tudo o que fazia dava certo, mas em mim as coisas não davam certo. Por muito tempo eu achei que não ia achar outro médico. Por mais que ele me maltratasse, eu não tinha para onde ir.

ÉPOCA – Qual é o sentimento que você tem hoje em relação ao doutor Aureo?
Daliana –
Tenho raiva porque ele não me disse que iria fazer uma cirurgia não regulamentada. Tenho raiva porque ele disse uma coisa e fez outra. Hoje não posso comer nada. Nem beber água.

ÉPOCA - Você sente falta dos amigos?
Daliana –
Todo domingo a gente saía, ia ao cinema, a festinhas. Era muito bom. Eu perdi isso. Não posso sair porque se vejo comida fico louca para comer e não posso. Estou tomando Daforin para controlar a ansiedade. Consigo andar, mas preciso carregar o suporte da sonda e tomar cuidado com o dreno. Estou com sonda desde janeiro deste ano. Estou presa a ela porque tenho de tomar a dieta proteica. Tomo seis por dia.

ÉPOCA – Quando estava no hospital em Goiânia, você tentou fugir para comer?
Daliana –
No Natal de 2007 eu disse para minha mãe: “Pode ter certeza de uma coisa: hoje vou comer. Vou na copa tomar um copo de leite. Se morrer, morri”. Corri puxando o carrinho da sonda e tomando cuidado para o dreno não soltar. Consegui pegar o copo e colocar o leite. Quando fui tomar, os enfermeiros me seguraram. Comecei a chorar, e eles choravam junto comigo.

ÉPOCA – O que você tem feito?
Daliana –
Vejo televisão, fico na internet, tento estudar. Mas tenho de ter muito cuidado com o dreno colocado na saída do estômago. Não posso correr nem andar muito rápido. Andar devagar e com muito cuidado eu posso. O dreno não tem ponto. Se sair, tenho de pegar um avião, ir correndo para São Paulo, torcer para não dar nenhuma infecção. Se der infecção, tem de fazer punção, drenar, ver qual bactéria que eu tenho e qual antibiótico tenho de tomar. É uma novela. Tem dia que choro a noite toda.

ÉPOCA – Você sabe com quantos quilos, mais ou menos, você está hoje?
Daliana –
Sei. Estou com 56 quilos. A dieta é muito boa, não me deixa emagrecer. Preciso estar bem para a próxima cirurgia. O médico de São Paulo vai tentar fechar a fístula que eu tenho no estômago. Se não funcionar, ele vai ter de extrair o meu estômago. Vou rezar muito.

2 comentários:

  1. ESTOU ABISMADA COM TUDO ISSO, MAS TENHO CERTEZA QUE O PAPAI DO CÉU VAI TE CURAR... CONFIA NELE.......... ATE PERCO AS PALAVRAS...
    UM ABRAÇO
    JAQUELINE

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  2. Gostaria muito de saber quantos desses pacientes estão vivos e bem após o terceiro ano da cirurgia inclussive os que fazem comentarios da cirúrgia exceto o Faustão, que é monitorado 24hs/dia.
    Gostaria mesmo de saber pois todos os que tive a oportunidade de conversar arrependeram da cirurgia e não obtiveram cura do diabetes.msfilha@hotmail.com
    Maria - Goiânia.

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